09 fevereiro 2005

Grandes decisões

As grandes decisões estão aí para serem tomadas, não é mesmo? Às vezes é penoso, machuca, incomoda, mas também pode aliviar.
Tomar grandes decisões é crescer, amadurecer e se responsabilizar por consequências.
É difícil ter que tomar decisões o tempo todo, mas é importante e necessário tomá-las.

Quando percebi que teria que deixar o meu país e morar na Suécia, me senti gelada, sem chão e, ao mesmo tempo, esperançosa, otimista. Afinal, sempre achei que mais vale a pena acreditar que vai dar certo e talvez quebrar a cara do que se arrepender a vida inteira de não ter tido coragem de tentar.

Eu tentei, estou aqui, não é fácil, mas não desisti de acreditar que tudo vale a pena. Às vezes tenho a sensação de que a minha coragem de encarar o mundo é perigosa, incontrolável, mas prefiro apostar que coragem demais é sempre melhor do que medo ou insegurança em demasia.

A influência das nossas decisões é, às vezes, para a vida inteira. Mudando para a Suécia, perdi a possibilidade de exercer a atividade que mais me dava prazer: atuar no jornalismo. Sempre soube que queria ser jornalista, desde criança. Tem certezas que a gente adquire, segura e carrega no coração. Sempre me vi nessa profissão, sempre fui feliz sendo jornalista.

Numa da férias que passei aqui consegui convencer a minha chefe, na ocasião, de que seria perfeitamente possível realizar as reportagens, escrever as matérias e enviar para a revista que eu trabalhava em São Paulo. Deu tudo certo, mas eles realmente precisavam de um repórter e assessor de imprensa que de dedicasse 100% ao trabalho e morasse na cidade. Naquela época, tomada por importantes decisões, resolvi que o melhor seria deixar o emprego e investir na minha vida afetiva, já que seria difícil me dedicar aos dois ao mesmo tempo.

Trabalhar como jornalista na Suécia, no começo, foi uma possibilidade que eu encarei como real. Mas não agora. Por conta de um curso que fiz, acabei fazendo contatos com jornalistas da mídia sueca, passei um dia no maior jornal aqui de Västerås, às vezes mando textos, em sueco, para um jornalista e recebo corrigidos e comentados, mas não acho possível me “instalar” na mídia sueca. Além de escrever num sueco perfeito, é necessário saber como tratar dos assuntos na sociedade sueca de maneira “ sueca”, quero dizer, é necessário conhecimento aprofundado nos diversos universos da sociedade sueca, anos de Suécia na bagagem. Quem sabe um dia!

Morar na Suécia me fez também abrir mão de estar perto da minha família, da minha cachorrinha Sabina, dos meus amigos, das pessoas e situacões que eu conheço e estou acostumada.
Muitas vezes tenho a sensação de que seria necessário participar de um curso intensivo sobre o “jeito sueco de ser”.


Mas voltando ao assunto “decisões”, quando a gente decidi mudar de cidade, de país, atingimos também outras vidas. É estranho pensar que não terei filhos brasileiros, mas suecos. É estranho pensar que a minha mãe não vai estar por aqui para ver a minha barriga crescer e crescer quando eu decidir engravidar, é estranho e às vezes, assustador, descobrir-me sem laços de sangue com nenhuma pessoa daqui.

Ao mesmo tempo que as grandes decisões mostram-se pesadas, é maravilhoso pensar que conseguimos tomá-las. Não seria possível viver de maneira intensa esse momento da minha vida, que me oferece também novas possibilidades e muito amor, se eu não tivésse aberto mão da minha confortável vida paulistana.

Decidir pelo “melhor” nem sempre é possível e claro, mas o exercício de decidir fortalece e impulsiona as nossas capacidades. Somos sempre capazes de grandes feitos através das decisões que tomamos!