31 julho 2009

Conquistas e renascimentos ao longo dos anos


Escrevi os 3 textos abaixo para o portal G1, da Globo.com, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, de um tempinho atrás. Como esses temas são sempre atuais, resolvi publicá-los aqui no blog. Aliás, todo dia é dia da mulher, né? Ou deveria ser...


Na cidade onde moro, na Suécia, há aproximadamente 120 mil habitantes! Dentre os estrangeiros, estão mulheres de várias nacionalidades, raças e religiões. O que une essas estrangeiras no mesmo país e na mesma cidade são, na maioria das vezes, histórias de amor ou histórias de guerra. O medo de não ser aceito na sociedade sueca, segrega tanto mulheres quanto homens estrangeiros.
No caso das mulheres, principalmente às que vêm do Oriente Médio e países africanos, são sempre vistas na companhia de outras mulheres dos mesmos países. O que gera uma grande dificuldade na hora de aprender o idioma sueco, imprescindível para a entrada no mercado de trabalho e conquista de novas amizades e contatos sociais importantes.
As suecas? São mulheres independentes, que há anos lutam pela igualdade de oportunidades dos sexos e que se saem muito bem nessa empreitada. Mas é claro, com relação ao mercado de trabalho, os salários, em vários setores, estão londe de chegar ao tão sonhado nível de igualdade.
Mas questões como licença-maternidade representam uma grande conquista para a mulher na Suécia, país em que esse benefício pode chegar a 1 ano e meio. Lembrando que a mulher tem o direito de dividir esse direito com o companheiro, caso queira. As leis suecas reconhecem a importância, tanto do pai quanto da mãe na vida da criança nos primeiros anos de vida.
Falando sobre outro assunto e de um ponto de vista mais latino da coisa, o “ruim” dessa busca constante de igualdade dos sexos faz com que os homens suecos passem a “evitar” o cavalheirismo em certas atitudes, pensando que a mulher vá interpretar um ato de cavalheirismo como uma tentativa de subjugá-la, de vê-la como sexo frágil.
Já percebi que atos que nós, brasileiras, vemos como gentileza e até incentivamos nos nossos parceiros, como o fato de abrir a porta para que entremos primeiro, não existem ou não são incentivados entre os suecos.
No campo profissional, as mulheres, são, como no Brasil, a maioria nos setores da saúde e educação. Apesar da sociedade sueca ser uma sociedade livre para homens e mulheres, há mulheres estrangeiras, a maioria vinda de sociedades mais rígidas, que continuam vivendo sob o total controle do marido, da família, da religião e dos hábitos comuns de seus países de origem. Outras, aproveitam a vida numa sociedade livre para quebrar estigmas e tabus, e renascerem!
Conheco uma muçulmana do Afeganistão, a qual vou chamar de Latifha, que serve como um típico exemplo desse “renascimento” ao qual me referi. Latifha usava o véu muçulmano, era tímida, mal olhava diretamente nos olhos quando falava com alguém. Muito aplicada nos estudos da língua sueca, decidiu que queria, de qualquer maneira, arranjar emprego. E contava com o total apoio do marido, também afegão, para concretizar esse plano.
Após dois anos sem nos vermos, encontro uma nova Latifha na rua: sem o véu, com maquiagem e roupas européias - que sempre disse querer usar - e empregada! Era uma outra luz no mesmo tímido olhar afegão!

Créditos: Globo.com (portal G1)

Suecas querem igualdade de salários

Numa pesquisa iniciada ontem pelo jornal sueco “Aftonbladet”, intitulada “Qual a mais importante questão relacionada à igualdade entre homens e mulheres a ser discutida na Suécia hoje em dia”, os leitores participam votando nas seguintes alternativas:
- fim da violência contra a mulher- direitos “divididos” à licença-maternidade (os homens, como comentei no texto anterior, têm o direito de dividir com a mulher o tempo que cada um fica em casa com o recém-nascido; mas, as mulheres ainda são quem ficam mais com as crianças, adiando assim, o retorno ao trabalho)- salários iguais para trabalhos iguais entre homens e mulheres- mais recursos para pesquisas relacionadas à saúde da mulher- fim da pornografia- mais mulheres em cargos de liderança- 6 horas de jornada de trabalho (a jornada atual é de 8 horas)- fim do “comércio” de mulheres
Até às 13h30 (horário local), 4475 pessoas tinham respondido à pesquisa. A questão que, por enquanto, é considerada a mais importante para as suecas é a igualdade de salários pelo desempenho das mesmas tarefas, com 42,9 % dos votos. A segunda alternativa apontada como a mais importante é o fim da violência contra a mulher, com 23,8%.
No painel de discussões do jornal, uma leitora comenta: “Não existe uma questão mais importante que a outra. Seria como perguntar qual das disciplinas escolares é a mais essencial”. Será?

Créditos: Globo.com (portal G1)

Ser mulher...


...na Suécia, pra mim, não tem nenhuma diferença de ser mulher em São Paulo, cidade em que morava no Brasil. Sim, é claro que não tenho as “mordomias” da vida paulistana, como poder andar de táxi sempre que preciso ou pedir uma comidinha pelo telefone, serviços caríssimos por aqui. Sem mencionar o fato de ser praticamente impossível poder pagar empregada, babá e tantos outros serviços tão comuns que a vida no Brasil pode proporcionar. Mas isso é outra história!
A mulher na Suécia precisa e consegue se transformar em duas!!! A maioria das mulheres trabalha fora e quando chega em casa, ainda trabalha e, muito, na organização do lar. Até aí, nada diferente da vida levada no Brasil. Mas a vantagem é que os homens suecos, sem muitas exceções, são bastante presentes na realização das tarefas domésticas e cuidados com as crianças. É comum ver homens, em licença-paternidade, com os amigos, na mesma situação, sentados nos cafés da cidade, de posse de seus bebês. Aliás, nunca vi tantos homens empurrando carrinhos de bebês como nas ruas da Suécia!
Através do meu trabalho, tenho a possibilidade de me encontrar com muitos estrangeiros. No caso das mulheres, é uma experiência a mais poder conhecer de perto, tanto histórias de refugiadas, que foram forçadas a abandonar suas famílias e pátrias para sobreviverem, quanto de mulheres que deixaram seus países pelo amor de um homem ou em nome de um sonho qualquer. Mulheres admiráveis, fortes e imprescindíveis na continuidade da luta por melhores dias para nós, mulheres do mundo inteiro.


Créditos: Globo.com (portal G1)